Kilamba24horas

Alpha Condé vai ser acusado por suspeitas de corrupção

 Alpha Condé vai ser acusado por suspeitas de corrupção

A Junta Militar que governa a República da Guiné pediu acusação contra o ex-Presidente Alpha Condé, ao mesmo tempo que o julgamento de cerca de 180 altos funcionários e ex-ministros, por suposta corrupção, anunciou ontem a AFP.

Os militares, que tomaram o poder há mais de um ano, fizeram do combate à corrupção uma das suas grandes batalhas e muitos ex-funcionários já foram detidos. Numa carta pública enviada aos procuradores-gerais, o ministro da Justiça deu um novo passo, porque visou o ex-Chefe de Estado (2010-2021), bem como um grande número de seus ex-executivos.

Entre os visados, estão o ex-Primeiro-Ministro Ibrahima Kassory Fofana e cerca de 40 ex-ministros, como Mohamed Diané, na Defesa, Mamady Camara, na Economia, e Mariama Camara, no Comércio. Vários assessores presidenciais de Condé também foram nomeados.

No total, o ministro da Justiça, Alphonse Charles Wright, deu uma lista de 188 nomes, alguns dos quais já estão presos e outros citados várias vezes. As suas contas estão congeladas, segundo o documento. Os processos são “por supostos actos de corrupção, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, falsificações em escritura pública, desvio de fundos públicos e cumplicidade”.

“O Governo guineense, na sua política de moralização da vida pública, tem como objectivo o combate às infracções económicas e financeiras”, afirma o ministro da Justiça. “É imperativo abrir inquéritos judiciais para elucidar a origem dos fundos”, continuou.

Esta não é a primeira vez que são feitas acusações contra o ex-Presidente Alpha Conde, de 84 anos, indiciado em Maio por supostos assassinatos, tortura, sequestros e estupros, num país onde a repressão a manifestações políticas é muitas vezes brutal.

Como exemplo do compromisso da junta com a justiça, o julgamento de Moussa Dadis Camara e de uma dezena de ex-militares e funcionários do Governo, planeado há anos, teve início em 28 de Setembro num tribunal de Conakry, onde respondem pelo massacre cometido em 28 de Setembro de 2009. Nesse e nos dias seguintes, 156 pessoas foram mortas, milhares ficaram gravemente feridas e, pelo menos, 109 mulheres estupradas, de acordo com o relatório de uma Comissão Internacional de inquérito da ONU.

  Detido por repressão a civis

A justiça guineense anunciou, ontem, a detenção de um elemento das forças de segurança, filmado a disparar uma arma durante as recentes manifestações contra a Junta no poder, nas quais vários civis foram mortos.

Yamoussa Conté, promotor público de Conacri, afirmou, numa declaração citada pela AFP, que Ibrahim Baldé tinha sido detido, não adiantando nada sobre o seu destino. Trata-se de uma ocorrência rara num país que está habituado à violência política. Há muito que os polícias e gendarmes são acusados pelos defensores dos direitos humanos de uso excessivo da força e as autoridades de fecharem os olhos.

A Junta que tomou o poder pela força, em Setembro de 2021, afirma estar empenhada em combater a impunidade. Cinco civis foram mortos entre 20 e 21 de Outubro, durante confrontos nos subúrbios de Conacri, na sequência de um apelo a manifestações contra a junta, de acordo com uma contagem feita pelo colectivo envolvido no apelo.

A magistratura anunciou procedimentos contra os organizadores e participantes das manifestações. Várias figuras da oposição foram interrogadas na segunda-feira e estão agora a ser processadas .

Ao mesmo tempo, o ministro da Justiça, Alphonse Charles Wright, ordenou a acusação dos responsáveis pela morte de civis e de qualquer membro das forças de segurança que possa ter utilizado as suas armas. Pediu também a identificação de um destes membros filmado a disparar uma pistola contra um alvo não visível na imagem.

O vídeo, de origem desconhecida, foi amplamente difundido nas redes sociais como um exemplo dos excessos das forças de segurança. O ministro da Justiça tinha também ordenado autópsias das vítimas. Os exames estabeleceram que três, incluindo uma criança de 12 anos e um adolescente de 16 anos, tinham sido baleados, de acordo com a declaração do procurador-geral da República. Um quarto morreu de hemorragia, após uma facada. A declaração dizia que apenas quatro corpos tinham sido autopsiados. “A lei será aplicada em toda a sua extensão e dentro de um prazo razoável”, lê-se na declaração.