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Federação descarta criação imediata da Liga de Futebol

 Federação descarta criação imediata da Liga de Futebol

A Federação Angolana de Futebol (FAF) afasta a possibilidade imediata da implementação da Liga, em substituição do actual modelo de disputa do Girabola, por incapacidade dos clubes preencherem os requisitos exigidos por lei, para a profissionalização da modalidade no país.

De acordo com Sérgio Raimundo, presidente do Conselho Jurisdicional da Federação, a profissionalização do futebol é a condição “sine quo non” (imprescindível) para a criação da Liga.

“Para o surgimento da Liga, é necessário profissionalizar o futebol, e, para tal, o artigo 82 da lei 6/14 de 20 de Maio diz claramente quais são os requisitos a serem observados para que a federação requeira junto do titular do pelouro do Executivo a intenção de profissionalizar o futebol”, adiantou-se a esclarecer, o também jurista, em entrevista recente ao canal desportivo da RNA.

“Tem havido muita confusão, quando se diz que a Liga é independente da Federação. De acordo com o artigo 29 da lei, o organismo autónomo é um órgão da federação e não um corpo estranho à federação, que exerce por delegação desta, as competências relativas às competições de natureza profissional”, acrescentou.

Os clubes, para entrarem para a disputa de uma Liga Profissional de Futebol, sublinhou ainda Sérgio Raimundo, têm de ter um orçamento sobre quanto vão gastar durante a época desportiva.

“Têm de juntar as cópias dos contratos de todos os atletas e treinadores”, asseverando que “não pode ser um orçamento fictício, como tem acontecido no nosso Girabola e que depois, a meio do campeonato, aparecem muitas equipas a pedir socorro e água para beber, porque estão cansados”.

O responsável federativo entende, por isso, que a actual realidade socioeconómica angolana não proporciona condições aos clubes de poderem preencher os requisitos exigidos por lei para que estejam habilitadas a disputar, para já, uma Liga Profissional.

“Entendo que, com esta lei, nem daqui a cinco anos podemos vir a ter uma Liga de Futebol em Angola. Os agentes desportivos e amantes do futebol têm de procurar uma forma de convencer o Governo a aligeirar alguns destes requisitos, porque às vezes as nossas leis são “copy past” de leis de outros países, sem olhar para aquilo que é a nossa realidade”, afirmou, tendo argumentado haver poucas empresas no mercado “com saúde financeira” para suportar determinados clubes, de tal sorte que, asseverou ainda, os chamados grandes clubes do nosso país, 1º de Agosto, Petro, Sagrada e, entre outras equipas, são patrocinadas pelo Estado.

“Hoje, nos países em vias de desenvolvimento, como é o caso de Angola, o Estado é o principal patrocinador do desporto em geral e do futebol em particular. Os grandes clubes, com alguma estabilidade no nosso campeonato, são patrocinados pelo Estado. Com esta realidade legal, vai ser difícil haver Liga em Angola, porque muitos dos clubes não têm condições para preencher os requisitos para profissionalizar o futebol, com o agravante do futebol ainda ser visto como um elemento de unidade nacional, que alimenta a felicidade deste povo”.

Gigantes com “pernas de barro”

Raimundo advertiu, ainda, que caso os clubes consigam, um dia, preencher os requisitos exigidos por lei para a profissionalização do futebol, a criação da Liga poderá afastar da disputa a maioria das equipas actualmente no Girabola, por incapacidade financeira.

A profissionalização do futebol, segundo o jurista, implicará uma redução de equipas, porque, neste momento, “apenas seis a oito clubes” estão em condições de integrar a Liga.

“O 1º de Agosto, Petro de Luanda, Interclube, Desportivo da Huíla, Sagrada Esperança, Desportivo de Saurimo, Bravos do Maquis, Académica do Lobito e o Wiliete, esta última, a única equipa que não é apoiada pelo Estado, não minha perspectiva, seriam as únicas equipas em condições de entrarem de forma imediata para uma Liga. Não sei se nos interessa reduzir o nosso campeonato de alta competição a oito equipas, com o agravante de ficarmos com um campeonato mais de Luanda do que propriamente nacional”, argumentou.

O presidente do Conselho Jurisdicional da FAF lamentou o facto de ter constatado, de forma objectiva, a inexistência de condições de a maioria dos clubes reunirem os requisitos, nem mesmo os ditos clubes grandes.

“Basta ver que o 1º de Agosto, que é visto como um dos gigantes do nosso futebol, quando lhe fecharam as torneiras no Ministério das Finanças, os jogadores quase decretaram greve. Quem diria. Um clube com a dimensão nacional e internacional do 1º de Agosto aparece com estas debilidades. E quem fala do 1º de Agosto, pode falar do Petro, porque se a Sonangol entra em crise e retira o patrocínio ao Petro, o clube desaparece. Portanto, os ditos grandes clubes são autênticos gigantes com pernas de barro”, confessou.